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Medicina sob medida: o avanço brasileiro que une ciência, biotecnologia e genômica
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Por Dr. Deivis O. Guimarães* zjo

A medicina de precisão, também conhecida como medicina personalizada, representa uma transformação significativa na abordagem do cuidado à saúde. Em vez de aplicar tratamentos padronizados para grupos amplos de pacientes, essa abordagem busca considerar as características individuais de cada pessoa, incluindo genética, microbiota, estilo de vida e ambiente. Essa revolução, antes restrita a grandes centros de pesquisa em países desenvolvidos, começa a ganhar força no Brasil, impulsionada por universidades, empresas de biotecnologia e programas estratégicos do governo.

Nos últimos anos, o Brasil deu os importantes rumo à construção de uma medicina que integra ciência avançada, dados genômicos da população e soluções terapêuticas adaptadas à realidade nacional, e essa transformação envolve não apenas avanços tecnológicos, mas também mudanças regulatórias, expansão da infraestrutura de pesquisa clínica e fortalecimento da indústria nacional de biotecnologia.

Este artigo apresenta um panorama técnico e estratégico sobre esse processo, trazendo dados atualizados, reflexões sobre oportunidades e desafios, além de exemplos concretos de soluções que já começam a impactar positivamente a vida dos brasileiros, incluindo terapias para Autismo, Ansiedade, Alzheimer, Câncer e Distúrbios metabólicos.

O que é medicina de precisão e por que ela importa

A medicina de precisão pode ser definida como uma abordagem que leva em conta a variabilidade individual nos genes, no ambiente e no estilo de vida de cada pessoa para prevenir, diagnosticar e tratar doenças. Ela se apoia em ferramentas como:

• Sequenciamento genético;
• Perfilagem proteômica e metabolômica;
• Análise do microbioma individual;
• Histórico digital de saúde;
• Modelos bioestatísticos e preditivos com inteligência artificial – Vencer o câncer.

Enquanto o modelo tradicional busca respostas médias para populações amplas, a medicina de precisão busca otimizar o cuidado com base em informações específicas de cada paciente.

O Programa genomas Brasil e a estratégia nacional

O Programa Genomas Brasil, lançado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, visa o sequenciamento de 100 mil genomas de brasileiros até 2026. Seu objetivo é construir um banco genético nacional e permitir a implementação da medicina personalizada no Sistema Único de Saúde (SUS).

O projeto busca mapear variações genéticas associadas a doenças comuns, especialmente em populações sub representadas mundialmente, como afrodescendentes, indígenas e miscigenados. Além disso, visa fomentar o desenvolvimento de novos produtos terapêuticos e diagnósticos de precisão.

Segundo informações recentes, o programa já alcançou 36.000 genomas sequenciados, com metas aceleradas para os próximos anos.

Biotecnologia Brasileira como Pilar da Medicina Sob Medida

O avanço da medicina personalizada no Brasil não se dá apenas no campo genético. A biotecnologia nacional tem sido fundamental para transformar conhecimento científico em soluções terapêuticas reais, e nesse cenário temos empresas brasileiras que estão à frente do desenvolvimento de probióticos com nanotecnologia, imunonutrientes de liberação dirigida e blends bioativos que integram componentes naturais com engenharia molecular. Inclusive se tornando referência global em algumas doenças neurológicas. A força da biotecnologia brasileira está em três pilares principais:

  • Pesquisa translacional com foco clínico
    Graças à atuação de organizações nacionais, universidades e startups Biotech de base científica, o país vem migrando de uma ciência voltada apenas para publicações para uma ciência aplicada. Tecnologias baseadas no eixo intestino-cérebro, por exemplo, já demonstraram resultados clínicos significativos em transtornos como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma descoberta brasileira para o mundo.
  • Capacidade de produção piloto com inovação local
    Projetos Pilotos que envolvem biotecnologia e nanotecnologia são um grande exemplo de os importantes no rumo da independência tecnológica e soberania nacional por meio da biotecnologia aplica em saúde. Laboratórios de escalonamento, em parceria com instituições públicas e privadas, que permitem que produtos validados e inovadores sejam fabricados em território nacional, reduzindo custos, facilitando o controle de qualidade e estimulando a soberania tecnológica.
  • Regulação e rastreabilidade
    Empresas brasileiras estão adotando padrões de rastreabilidade genômica e de composição microbiológica por meio de registros em bancos de dados internacionais, agregando confiança internacional e possibilitando parcerias com players dos Estados Unidos, Europa e Ásia.

Casos de aplicação: Do probiótico ao perfil genético

Intervenções nutricionais avançadas para o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Estudos clínicos conduzidos no Brasil com produtos desenvolvidos por empresas nacionais demonstraram melhora significativa em marcadores comportamentais, adaptativos e inflamatórios em crianças com TEA. Esses produtos combinam cepas específicas de origem natural, microencapsuladas com vitaminas essenciais, e mostraram efeitos estatisticamente relevantes em pacientes após 90 dias de uso.

Vitaminas e perfis genéticos em doenças metabólicas

Com base em testes genéticos, diversos pacientes aram a receber recomendações nutricionais individualizadas com base em polimorfismos genéticos ligados à absorção de vitaminas, metilação e estresse oxidativo. A combinação de exames de genotipagem com suplementação personalizada reduziu marcadores inflamatórios e melhorou funções cognitivas em estudos de intervenção acompanhados por bioestatísticos.

A nova Lei da Pesquisa Clínica no Brasil: mais velocidade, segurança e inovação

A sanção da Lei nº 14.874/2024, que regulamenta a condução de pesquisas clínicas em seres humanos, representa um marco histórico para a ciência brasileira. A nova legislação modernizou o processo de avaliação ética e regulatória, aproximando o Brasil de padrões internacionais e incentivando a instalação de estudos multicêntricos no país.

Entre os principais avanços da nova lei, destacam-se:

• Prazo máximo de 90 dias para aprovação regulatória;
• Incorporação da figura do Comitê Independente de Monitoramento;
• Maior transparência na publicação de resultados;
• Estímulo à proteção de dados e segurança dos voluntários.

Essas medidas favorecem o desenvolvimento de produtos inovadores de base biotecnológica, uma vez que aceleram o tempo entre a descoberta científica e a validação clínica, além de fortalecer a confiança de investidores nacionais e internacionais.

Oportunidade econômica e soberania científica

A adoção de uma política robusta de incentivo à medicina de precisão representa não apenas um avanço científico, mas também uma estratégia de soberania econômica e tecnológica. Dados do setor indicam que a medicina personalizada deve movimentar globalmente cerca de US$ 140 bilhões até 2026, com taxas de crescimento acima de 10% ao ano.

No Brasil, estima-se que a incorporação de terapias personalizadas e soluções nutricionais dirigidas pode gerar economia significativa ao SUS, especialmente em condições de alto custo como autismo, doenças neurodegenerativas e distúrbios metabólicos.

Projeções e Perspectivas Futuras

Diante da convergência entre genômica populacional, inteligência artificial e biotecnologia aplicada à saúde, o Brasil encontra-se diante de uma janela de oportunidade inédita. Se bem conduzido, esse movimento pode posicionar o país como um centro global de referência em soluções terapêuticas personalizadas, com base em sua biodiversidade, diversidade genética e competência científica instalada.

Vários cenários estratégicos estão em desenvolvimento, com destaque para:

• A implantação de centros regionais de medicina personalizada que integrem pesquisa clínica, genômica e produção biotecnológica;
• A internacionalização de tecnologias nacionais, com patentes já registradas em plataformas como o USPTO e a EPO;
• A formação de recursos humanos altamente qualificados em bioinformática, farmacogenética, nanotecnologia e ciências ômicas;
• A articulação entre universidades, indústria e sistema público de saúde para garantir a transferência do conhecimento em tempo hábil para o paciente;
• O crescimento da confiança pública nos produtos desenvolvidos com ciência nacional, sobretudo quando os resultados são comunicados com transparência, rigor e ética.

Essas iniciativas não apenas elevam a capacidade científica brasileira, como também fortalecem a economia, promovem inclusão social e estimulam a inovação baseada em necessidades reais da população.

Conclusão: Um Brasil capaz de curar com ciência própria

A medicina sob medida não é apenas uma tendência global, e está sendo implementada gradativamente no Brasil com competência, ousadia e potencial de impacto transformador. A articulação entre genômica, ciência translacional e biotecnologia nacional aponta para um futuro em que tratamentos serão mais eficazes, seguros, íveis e adaptados ao perfil único de cada cidadão.

O país possui todas as condições estruturais e intelectuais para liderar essa nova era da saúde, desde uma base científica sólida até uma biodiversidade única no mundo, ando por redes de pesquisa, universidades e startups altamente capacitadas. No entanto, para que essa transição se consolide, é fundamental garantir políticas públicas permanentes, segurança jurídica para os pesquisadores e incentivos que estimulem o setor produtivo a investir em inovação nacional. Investir em medicina personalizada é investir em pessoas, e ao unir ciência, biotecnologia e genômica, o Brasil tem a chance não apenas de tratar melhor sua população, mas de se tornar exemplo global de como um país pode transformar conhecimento em saúde, e saúde em soberania.

Referências Bibliográficas

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*Pesquisador e Diretor de pesquisa da Gon1 Biotech
Doutor Honoris Causa em Biotecnologia aplicada em saúde
Doutorando em gestão e tecnologia industrial: desenvolvimento de novos produtos

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